quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sobre as mulheres brutas

Por Isabele Bacelar



Nada contra as singelas. As extremamente-extremamente singelas me intrigam um pouco, é bem verdade, mas, não a ponto de me tomarem sequer um minuto cheio.
O fato é que, nem sempre a vida permite que as pessoas sejam assim. Acredito que quase sempre não...
A gente vai sendo envolvido por aquilo que chama de realidade, cada um no ritmo em que sua vivência permite.
Alguns, como eu, são esquartejados e têm que se juntar aos poucos milhares de vezes. Até perceber que é preciso fazer disso um caminho para ser forte. E feliz.
E é justamente aí que está o ponto: que tem sobrado às mulheres que têm essa coisa do precisar ou preferir ser forte em suas vidas e que,de alguma forma, refletem isso em seu comportamento? Digo, que tipo de olhar tem sido dirigido às mulheres assim?
Cansei de pensar nisso com referencial puramente feminista, não é essa minha intenção aqui. Ou de achar que isso é reflexo da minha não-adequação aos padrões de estética, comportamento e não sei mais o quê essas merdas que se inventa pra fazer com que uns se sintam péssimos e outros se sintam menos péssimos por suas existências rasas, o famoso “despeito” que explica, especialmente aos umbigos do universo, sem o menor critério, todo e qualquer tipo de indagação dessa natureza.
Me parece que o olhar afetuoso está inconscientemente reservado às sílfides intocáveis e às princesas descoladas. Que pelo fato de não andar por aí fazendo caras e bocas como se estivesse num videoclip, ser tratada com um pouco de cuidado é desnecessário.
Falo isso de um modo geral. Parece que pra ser mulher e ser tratada como tal agora é preciso fazer tipo. E não tem nada a ver com a questão dos direitos iguais e tudo mais. Tem a ver com essa coisa que eu muito tenho vivenciado de mulheres eleitas. A despeito de outras, que podem ouvir tudo, sem o menor filtro, e enfrentar situações extremamente agressivas porque “agüentam o tranco”.
Simplesmente adoro conviver com meus amigos e poder fazer parte especialmente da conversa dos meninos. E gosto de poder ouvir e ajudar na solução dos problemas das pessoas de uma forma ativa. Mas, queria que as pessoas enxergassem que isso não é sinônimo de passe livre para perder de vista que, seja como for, uma personalidade mais inclinada à força ou falta de paciência para viver posando de perfeita não é sinônimo de insensibilidade. No peito das brutas e desbocadas também bate um coração.
Mando um beijo às minhas amigas que, coincidentemente ou não, são de fato donas de suas próprias cabeças, línguas e vidas e não deixam por isso de ser maravilhosas e deslumbrantes em sua autenticidade.

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